Crimes no universo logístico
4 min readQuais mecanismos de segurança para lidar com as vulnerabilidades? Especialista dá dicas. Dados apontam que em 2022 mais de 13 mil crimes de roubos de cargas foram identificados no Brasil
No setor logístico brasileiro, temos um preocupante cenário em diferentes localidades do país, que são consideradas ‘áreas de risco’. Nesse contexto, se por um lado existem determinadas ameaças após acessar localidades que possuem “donos”, que não o Estado, por outro, existe o risco de ter a marca da empresa atrelada a extorsões como contrapartida para poder transitar em ambiente sob domínio do poder paralelo. Diante a isso, como agir nestes casos?
Primeiro de tudo, buscar soluções em meio ao caos é uma decisão mais assertiva nestes casos. Isso porque, empresas que tiverem esta visão, provavelmente, alcançarão mercados relevantes, além do fato de mostrarem à sociedade que conseguem reduzir as desigualdades sociais. Mas, para chegar ao campo desejado, precisamos considerar os desafios do setor.
Segundo a Associação Nacional de Transportes de Cargas, em 2022, mais de 13 mil crimes de roubos de cargas foram identificados no Brasil, e 85% deste número foi registrado somente na região sudeste. Por este fato, diversas transportadoras faliram e o mercado paralelo não para de crescer, pois está camuflado e protegido pela alta do desemprego que, apesar da recente redução, ainda atinge 8,6 milhões de brasileiros, além da baixa fiscalização dos órgãos responsáveis.
Desse modo, a falta de segurança na área da logística registrou o montante de R$1,2 bilhões em prejuízos no ano de 2022 devido ao roubo de cargas. E os problemas não param por aí.
Empresas sentem dificuldades na contratação, pois profissionais acabam optando por outras carreiras por conta do receio de se tornarem vítimas de criminosos. A exemplo disso, no Brasil, mais de 1 milhão de motoristas cadastrados deixaram a profissão durante o exercício nos últimos dez anos.
Como o desemprego ainda existe no setor, além dos salários pouco atrativos, o crime organizado viu uma oportunidade de implantar pessoas dentro das operações logísticas para conseguir informações privilegiadas, a fim de aferir lucros. Todo esse cenário mostra que o papel da segurança se faz urgente, pois diversos crimes são cometidos simplesmente por oportunidade e de onde menos se espera.
Nesse contexto, saber quem são os profissionais que trabalham na operação das organizações reduz as chances de perdas. No entanto, são necessários alguns processos pragmáticos bem desenhados, além de treinamentos aplicados e uma Política de Compliance bem definida.
Sob este aspecto, ao iniciar o planejamento estratégico, as empresas devem considerar a segurança como garantia dos processos e como uma ferramenta de expansão de vendas, uma vez que bem aplicada, a iniciativa traz benefícios para os indicadores operacionais. Mesmo que esta realidade não desperte o interesse em boa parte dos investimentos das empresas, é importante ressaltar a mudança da cultura organizacional que, embora não seja um papel simples, ela se faz necessária e urgente para resolução de casos tão críticos como estes.
E, quando analisamos os pontos destacados, pode-se perceber que, quando há um desequilíbrio na cadeia logística, os impactos são enormes e trazem à tona a realidade brasileira. Com isso, podemos afirmar que se não tratarmos com mais seriedade os riscos decorrentes da violência que assola o país, em algum momento essa conta chegará. E, como reflexo destes episódios, os produtos ficarão mais caros nas prateleiras.
Ainda sobre os desafios do setor, temos as Relações Institucionais realizadas principalmente nos grandes centros, como Rio de Janeiro e São Paulo. Nessas regiões, é pouco provável que equipes de distribuição ou mesmo das áreas comerciais não tenham sido alvos de abordagens, ora por parte do crime organizado, ora por parte de Instituições Públicas em busca de benefícios próprios. Nessas horas, é preciso saber como se posicionar.
Diante dessa problemática, ter uma Área de Relações Institucionais multidisciplinar faz toda a diferença. Profissionais com habilidades para saber como se comportar nessas situações, além de treinar as equipes operacionais e, por vezes, ser o porta-voz da companhia, é uma garantia da blindagem de pessoas e da própria marca.
Por fim, é importante entender que em qualquer local existem pessoas que seguem regras e outras que não, pois a omissão de gestores em relação à segurança das operações de distribuições também é um ponto de preocupação e que alimenta os mercados ilegais, que geram o fortalecimento da violência pelo país.
Trabalhar a inteligência por meio de roteiros, alinhados com a mancha criminal, bem como apoiado pela alta gestão dos negócios e somados a uma eficaz Política de Anticorrupção e Compliance, tornam as operações mais seguras para todos os envolvidos e também para a sociedade.
Artigo de Eduardo Masulo, consultor master na ICTS Security