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Sono x volante

Intenção é evitar que acidentes, assim como este, ocorram

77% dos 15 mil acidentes no Brasil ocorridos nos primeiros três meses deste ano foram causados por escolhas erradas, que têm a privação de sono como fator determinante

Segundo dados da Polícia Rodoviária Federal, 77% dos 15 mil acidentes no Brasil ocorridos nos primeiros três meses deste ano foram causados por escolhas erradas, que têm a privação de sono como fator determinante, já que a combinação entre direção e falta de descanso também é responsável por decisões erradas como ultrapassagens indevidas e velocidade acima do permitido.

No transporte de cargas a questão fica ainda mais dramática, já que o modal rodoviário é responsável por 60% de toda a movimentação de cargas no país, contribuindo e muito para perdas anuais calculadas em mais de R$ 12 bilhões ao ano.

“No Brasil, enquanto o debate sobre o uso de novas tecnologias para reduzir acidentes ainda nem começou, na Comunidade Europeia a mentalidade é que se a tecnologia existe e salva vidas, é preciso usá-la”, diz Sidnei Canhedo, executivo da Optalert, empresa australiana de tecnologia para combate à sonolência ao volante.

Ele, que é de um dos maiores especialistas em controle de sonolência do mundo, informa que a Europa caminha para reduzir, drasticamente, os acidentes causados por motoristas com sono ou fadiga.

“Se os veículos comerciais contassem com a tecnologia já conhecida e amplamente usada no mundo para controle da sonolência ao volante, adotada como padrão para os novos carros que saem de fábrica na Comunidade Europeia, teríamos uma grande queda na incidência desse tipo de acidentes”, diz Canhedo

Algoritmos

Algoritmos em câmeras inteligentes emitirão alarmes contra sonolência em veículos de todo o mundo. A afirmação é de Paul Zubrinich, CMO da Optalert, empresa que também é criadora da escala do sono, usada por instituições como Harvard e pela NASA – agência espacial americana.

Testes já estão em fase final e a Europa deverá impulsionar o uso das tecnologias de segurança em todos os veículos que circularem no continente.

A relação sono e volante está na mira dos órgãos reguladores europeus e os equipamentos de prevenção se tornarão obrigatórios em todo o mundo, em poucos anos.

 “Temos uma grande mudança pela frente que beneficiará a todos com uma redução significativa de acidentes e de perdas de vidas em todo o mundo”, afirma Zubrinich ao comentar sobre a obrigatoriedade imposta pelas autoridades da União Europeia.

O bloco decidiu incluir a detecção de sonolência do motorista como uma das exigências de segurança em carros vendidos dentro dos 27 países. O Euro NCAP (programa europeu de segurança em automóveis), também incorporou a detecção de sonolência como parte de seu protocolo de avaliação ao analisar as classificações de segurança de um veículo.

Na prática, todos os novos modelos homologados já precisam contar com um sistema de monitoramento de fadiga e, a partir de julho de 2024, todos os veículos que saírem das concessionárias europeias terão que ter o equipamento como padrão.

“Os dispositivos não somente serão obrigatórios como terão que apresentar níveis elevados de credibilidade, baseados em algoritmos que institucionalizam análises objetivas, baseadas em modelos matemáticos eficientes e confiáveis”, explica Zubrinich.

O novo equipamento que a Optalert oferecerá será capaz de medir, por exemplo, a frequência e velocidade de ‘piscadas’ do motorista, além de outras manifestações oculares que determinarão o nível de cansaço de quem está dirigindo. O alerta será emitido de acordo com a escala de cansaço que não apenas gerará uma autorreflexão de responsabilidade no motorista, como um aviso aos passageiros de que o condutor não está em condições de dirigir com segurança. A tecnologia é preditiva e será capaz de evitar milhares de acidentes já em seus primeiros anos de implementação.

Estudos compilados pela Optalert apontam que 60% dos motoristas que estão dirigindo ‘neste momento’, em estradas e rodovias pelo mundo, estão com algum nível de cansaço ou sonolência que merece atenção.

No Brasil

Por aqui não há no radar uma previsão de quando uma lei similar a da União Europeia deva ser aprovada. A sociedade brasileira não debate o tema com a devida urgência, apesar de ter um dos sistemas rodoviários mais mortais do mundo.

De acordo com um estudo da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (ABRAMET) em parceria com a Academia Brasileira de Neurologia e com o Conselho Regional de Medicina, 42% dos acidentes estão relacionados ao sono e 18% por fadiga. “Somados, parte significativa de 62% do drama que vivenciamos nas pistas brasileiras poderia ser evitado, se adotássemos a prevenção como bandeira veicular”, declara Canhedo.

No Brasil, a meditech Optalert atua em operações monitoradas nas mineradoras Usiminas e Vale, com resultados expressivos na detecção de fadiga de motoristas que conduzem os chamados caminhões fora-de-estrada (em circuitos fechados). A adoção do sistema da Optalert foi capaz de eliminar a ocorrência de acidentes graves em ambas as empresas.

Bruno Castilho

bruno@cargasetransportes.com.br

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