Desafio em oportunidade

Lei do Caminhoneiro pode transformar desafios em oportunidades. Nova lei impacta diretamente a rotina dos motoristas – exceto aqueles de aplicativos – e a gestão logística das empresas.
A recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), em junho de 2023, trouxe mudanças profundas para a Lei do Caminhoneiro (Lei 13.103 de 2015), impactando diretamente a rotina dos motoristas – exceto aqueles de aplicativos – e a gestão logística das empresas. Alguns encaram essas alterações como um entrave burocrático, mas a realidade é que elas representam uma oportunidade inegável para o setor evoluir e se modernizar.
Com a nova regulamentação, o tempo de espera para carregamento e descarregamento passou a ser considerado como jornada de trabalho, enquanto intervalos para refeição, repouso e descanso foram excluídos do cálculo. Além disso, motoristas não podem mais descansar enquanto o veículo está em movimento, mesmo com revezamento, e devem respeitar um intervalo ininterrupto de 11 horas de descanso a cada 24 horas. O descanso semanal obrigatório agora deve ser de 35 horas a cada seis dias trabalhados, sem possibilidade de acúmulo. Essas mudanças exigem um novo olhar para a gestão do transporte rodoviário e demandam ações concretas para evitar penalizações.
Empresas que insistirem em processos ultrapassados enfrentarão sérios desafios. A multa de estadia, por exemplo, foi atualizada em 2024 para R$ 2,29 por tonelada/hora da capacidade do veículo, podendo representar um custo significativo. Uma carreta de 27 toneladas parada por 6 horas gera um custo de R$ 370,98 – um valor que, acumulado, impacta diretamente o orçamento das operações. Mas há maneiras de evitar esse tipo de perda: investir em tecnologia é uma delas.
Ferramentas como o Yard Management System (YMS) – ou Sistema de Gestão de Pátio – e sistemas automatizados de agendamento ajudam a otimizar o fluxo logístico, reduzindo tempo de espera e eliminando gargalos. Mais do que evitar prejuízos financeiros, essas inovações promovem condições de trabalho mais dignas para os motoristas, evitando jornadas exaustivas e reforçando o compromisso com a segurança.
Ignorar essas mudanças é fechar os olhos para um setor que está se transformando. O transporte rodoviário não pode continuar operando como há décadas; a modernização aparece como uma necessidade para manter a competitividade. Empresas que adotarem novas tecnologias e processos eficientes não apenas evitarão multas e perdas financeiras, mas também se destacarão como referências em um mercado cada vez mais exigente.
E os benefícios vão além do mercado corporativo, eles se refletem no bem-estar coletivo. Condutores submetidos a jornadas de trabalho exaustivas, combinadas com a falta de acompanhamento médico e psicológico, podem colocar a própria vida e a de terceiros em risco. De acordo com um levantamento da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), o sono e a fadiga são a terceira maior causa de acidentes de trânsito no país.
Portanto, encarar as novas regras como uma oportunidade – e não como um obstáculo – é a chave para o sucesso no setor. Adaptar-se à nova realidade da Lei do Caminhoneiro é um passo essencial para garantir a saúde de motoristas, passageiros e pedestres, a sustentabilidade e o consequente crescimento da área logística no Brasil.
Artigo de Eros Viggiano, CEO e fundador da LogPyx