Mulheres na logística
Lideranças femininas relatam suas experiências no setor. Em uma área ainda predominantemente masculina, gestoras contam como é trabalhar no segmento
O Grupo Move3, que compõe dez marcas líderes em diferentes setores da logística no Brasil, cresceu ao longo dos anos na contramão da maior parte de sua área de atuação. A partir de políticas de contratações afirmativas e atenção para a equidade salarial, a quantidade de mulheres na equipe se mantém próxima da metade, inclusive nos cargos de gerência: elas são 766 espalhadas pelas empresas do grupo, dentre as quais 67 são líderes – um aumento de 5% em relação a 2023.
Essa é uma diferença considerável dos dados mais gerais, como o Raio X da Logística no Brasil, do ano passado, desenvolvido pela startup Trackage. Dentre os respondentes da pesquisa, 76,2% são homens e apenas 23,8% são mulheres. No Grupo Move3, essas estatísticas se aproximam entre si: 48,5% dos colaboradores são homens e 51,5% são mulheres.
Juliana Vaz, superintendente de pós vendas, diz que a presença feminina no ambiente de trabalho, especialmente nos cargos mais altos, evitam a sensação de isolamento e motivam o esforço de outras colaboradoras. “Trabalhar em um ambiente inclusivo estimula a carreira de qualquer profissional. Eu comecei minha jornada aqui coordenando uma equipe pequena, com cerca de cinco pessoas, quando o grupo ainda fazia menos de 500 mil envios mensais. Anos depois, superamos a marca de 10 milhões de envios mensais e eu sou responsável por cerca de 100 profissionais. Me sinto real protagonista da minha carreira”, comenta Juliana. Ela trabalha na empresa há nove anos.
Priscila Feliciano Rocha, gerente de implantação e rotas, está há mais de sete anos na Flash Courier, uma das principais marcas do grupo, e entende que as ações voltadas para profissionais femininas são o que resulta no sucesso de tantas líderes. “Além de promover diversidade no ambiente de trabalho, o que melhora os resultados de qualquer equipe já que dá espaço a novas ideias e visões, a equidade de gênero reforça que a organização oferece as mesmas condições de trabalho para todas as pessoas. Ainda por cima, também indica para todo o mercado que a sua posição não está limitada a um gênero”, afirma.
A mensagem para o mercado é de grande importância para que o setor logístico comece a mudar em grande escala. Muitas vezes, mesmo quando as empresas buscam mulheres para preencher mais vagas, há poucas candidatas em comparação aos homens. Isso torna a mudança mais lenta.
Bruna Campos, gerente de RH, ressalta que é preciso se empenhar para encontrar as colaboradoras certas e que essa procura costuma valer a pena. “Nós priorizamos as entrevistas com elas justamente para encontrar esses talentos escondidos. Já ocorreu de abrirmos uma vaga para gerente de logística, recebermos 28 currículos de homens e apenas 5 de mulheres, e ainda assim foi uma mulher a escolhida no final”, conta.
O exemplo de outras profissionais com trajetórias de sucesso pode fazer a diferença para que cada vez mais mulheres se encantem com a área. Quando não há representatividade, podem surgir receios sobre a carreira, além de dúvidas sobre a própria capacidade. Por isso, esforços como os da Move3 trazem impactos que reverberam no mercado inteiro.
“É possível fazer ainda mais para ajudar as mulheres a se desenvolverem e se destacarem, como programas de mentoria, por exemplo. Mas o que realmente importa é que elas saibam que sua presença no setor, por si só, é importante. Se eu pudesse dar um conselho para quem está começando na logística, é esse: aproveite ao máximo as oportunidades e nunca subestime seu potencial. Deixe essa síndrome de impostora de lado”, conclui Juliana Vaz.
Bruno Castilho
bruno@cargasetransportes.com.br